Foto Adri Felden / Argosfoto
Fomos convidadas pela Confraria das Lagartixas para participar da roda de outubro sobre cinema e literatura na Livraria da Vila em Moema. O filme e o conto escolhidos foram "Sete Minutos Depois da Meia Noite" do diretor Juan Antonio Bayona e "Noite" da canadense Alice Munro.
As duas histórias relatam a trajetória de dois jovens de doze e quatorze anos, enfrentando conflitos emocionais que ficam mais evidentes à noite, na hora de dormir, sofrendo de insônia e pesadelos. Quando dormimos nossas defesas ficam menos rígidas e os sonhos se projetam na tela da nossa mente como filmes. Freud no seu livro "A interpretação dos Sonhos", relata que os sonhos são como guardiões do sono e tem a função primordial de nos manter dormindo. Se há o despertar por meio de um sonho de angústia, o sonho fracassou em sua função. Como se o conteúdo sonhado fosse percebido como angústia por nosso psiquismo que se defende frente o pior.
A jovem relatada por Munro no conto "Noite", era invadida por pensamentos obsessivos em que se imaginava matando sua irmã mais nova. Com medo da loucura "que poderia estar deitada ao seu lado durante a noite", a personagem decide não dormir e caminha pela casa para se esquivar dos pensamentos. Para a psicanálise, a insônia pode indicar um esforço de simbolização que está além da capacidade psíquica. Acessar as fantasias oníricas, seria estar em contato com os nossos desejos mais profundos.
O personagem do filme "Sete Minutos Depois da Meia Noite", sofre de pesadelos que se repetem diariamente, logo após à meia noite. O conteúdo de seus sonhos de angústia o colocam em contato com uma verdade que ele tenta esconder. Sua mãe está com câncer terminal e Conor deseja que esse sofrimento termine, ao mesmo tempo em que não quer que ela se vá. Usando o recurso da fantasia, ao despertar ele desenha um "monstro" que o acompanha nesta aceitação da ambiguidade humana. Em um processo de análise, o analista faz algo similar com o paciente, compreende as fragilidades e se faz presente na travessia em busca da sua própria verdade.
Foi um encontro com muitas trocas e sentimentos. Para finalizar houve a apresentação da cantora e compositora Karin Martins, com sua voz forte, doce e emocionante. Trouxe a música "História de Ana" de sua própria autoria sobre o amor. Como diria Lacan, "não se faz outra coisa em análise, senão falar de amor."
Agradecemos o convite da Confraria das Lagartixas, à Microcidade Moema por promover eventos que proporcionam às pessoas se unirem e compartilhar experiências.
É sempre muito rico para nós poder contribuir com o olhar da psicanálise de maneira acessível e agregadora.
Galeria de fotos da Roda de Conversa: