Foi uma grande surpresa para nós, encontrarmos mais uma incrível programação do Projeto Finitudes do Sesc Ipiranga, o Death Café. Uma iniciativa para se falar sobre o tema da morte.
O primeiro Death Café surgiu em 2011, criado por Jon Underwood e Sue Barsky Reid e inspirado na ideia de Bernard Crettaz, do Reino Unido. Desde então, foram realizados mais de 5328 encontros em 52 países. O objetivo é “aumentar a consciência sobre finitude, com vista à ajudar as pessoas a aproveitarem melhor as suas vidas (finitas)”. As reuniões ocorrem em locais públicos para falar de um jeito fácil sobre coisas difíceis.
No último domingo participamos de um desses encontros, realizado no Cemitério do Redentor, em São Paulo. Ao chegarmos, sentamos ao redor de uma mesa com café, chá e comidinhas. Fomos recebidas de forma acolhedora pela Renata Couto de Vasconcellos, psicóloga sistêmica que estava mediando o encontro, bem como todos os integrantes do grupo. “Quanto mais falamos da morte, melhor podemos viver”, diz Renata.
Lá estavam profissionais de várias áreas da saúde, além de pessoas que perderam entes queridos e curiosos pelo tema. Esta iniciativa parece atrair muito interesse e pelo que nos foi dito, o grupo segue aumentando a cada encontro.
Este especificamente ocorreu em um lugar lindo com muito verde, pássaros e cores. Nos chamou atenção o fato de estarmos falando sobre a morte em um lugar com tanta vida. Mas na realidade não estaríamos falando da vida quando se fala da morte? São os dois lados da mesma moeda. O único ruído que atravessava a roda de conversa era a cantoria dos passarinhos em um belo dia de primavera. Escutamos muitas histórias ricas em experiências, onde as trocas e o compartilhar ocorreram naturalmente e de forma espontânea.
Quando falamos da morte, encontramos um novo sentido para o viver - essa experiência única que buscamos algum significado dia após dia. Estar em contato com o tema da finitude nos remete ao desamparo que nos constitui como sujeitos. O tema da morte e do morrer é algo que escapa à experiência humana, um enigma, um mistério que nos faz sair da onipotência e aceitar a falta de controle que temos das questões existenciais. Abrir mão do controle e aceitar as incertezas, frustrações e perdas para ressignificar o viver e seguir em frente.
A proposta do Death Café não é ser uma psicoterapia de grupo , mas com certeza, se mostrou terapêutico, pois levou os participantes à reflexões , novas formas de olhar a morte e de lidar com ela. Ficamos muito felizes com essa rica experiência e em saber que há espaços disponíveis para o compartilhamento real de experiências em uma realidade cada vez mais digital.