No dia internacional da dança flamenca, houve a apresentação do espetáculo "Lluvia" de Eva Yerbabuena no Teatro Bradesco em São Paulo. A data não poderia ser homenageada de forma mais legítima e emocionante.
"Lluvia nasceu de um dia cinza de pura melancolia. Do desejo de explorar a origem do amor na mais pura solidão", diz Eva. Passaram-se sete anos desde sua última apresentação no Brasil. Para a artista, a apresentação é uma homenagem à melancolia e ao desamor, ao estar vivo, ao sem fim da vida.
O flamenco tem em sua origem o cante melancólico dos ciganos e mouros. Eram nômades que acabaram se concentrando na região da Andaluzia na Espanha. Transmitiam por meio da dança e do cante, seus sentimentos e a cultura de diferentes regiões.
Eva traz um baile flamenco contemporâneo, com os movimentos do pulso separado do ombro com uma intensidade que prende a respiração do espectador. O tronco, a cintura e o quadril passam pela mesma intenção de separação e é como se ganhassem movimentos próprios.
Uma vivência singular que convida ao despertar dos sentimentos mais íntimos em nós: o contato com o estranho que nos habita. Os movimentos flamencos de Eva são como últimos suspiros, por isso a movimentação da libido é intensa para quem assiste.
O material de trabalho da psicanálise é a palavra, mas há algo na palavra que sempre escapa. O analista tem o constante exercício de escutar além do que está sendo dito.
A dança e a música flamenca (cante, guitarra e cajon) nos faz ir além do discurso, nos transporta para o universo simbólico da melodia, dos sentimentos e das vibrações.
Assistir a apresentação de flamenco de Eva é se deparar com essa experiência única e sensível, que mesmo no silêncio dispara o mais agudo som.