Na última terça-feira tive a honra de representar a Casa Frida em uma roda de conversa com pacientes com câncer e seus familiares, à convite do Dr Fernando Cotait Maluf, para discorrer sobre a relação médico/paciente através do olhar da psicanálise.
A roda foi uma iniciativa do Dr Fernando Maluf que é especialista na área de oncologia clínica e um dos membros fundadores do Instituto Vencer o Câncer.
O Dr Maluf abriu a roda, relacionou o tratamento como uma verdadeira batalha e enfatiza a importância dos seus pacientes terem uma rede de apoio afetiva para se empenhar no tratamento. Comentou ainda sobre a importância de se acreditar em algo para enfrentar o difícil processo da luta contra o câncer. O esporte e a religião possuem um lugar de destaque em sua trajetória de vida.
Em seguida a Dra Andrea Pereira, médica nutróloga da Oncologia do Hospital Albert Einstein, contribuiu com a importância da alimentação equilibrada para a prevenção do câncer.
Na minha fala tomei o cuidado de fazer uma introdução à psicanálise e me baseei sobretudo no conceito de transferência. O lugar que o médico é colocado como representante do saber clínico e aquele que sabe sobre o seu sintoma. Em contraponto com o lugar do psicanalista que de início ocupa este lugar do Sujeito Suposto Saber, mas que vai se deslocando para o lugar do não saber, para que assim seja possível para o sujeito criar um saber sobre si mesmo. A psicanálise é uma das alternativas frente ao sofrimento humano mas não é a única verdade se tratando das questões psíquicas. O mais importante é o sujeito identificar o que faz sentido para si visando se fortalecer psiquicamente.
No final da roda, uma fala me chamou atenção: o relato de uma senhora sobre o quanto era difícil o tratamento sendo uma pessoa sozinha. Disse que durante a roda até se esqueceu de estar só e em tratamento. Se sentiu em paz como há muito tempo não se sentia. A roda possui esse potencial de aproximar, acolher e ressignificar as experiências.
Acredito ser de extrema importância articular a psicanálise com outras áreas de conhecimento, tal como a medicina. Além disso, me senti honrada por fazer parte por algumas horas da vida daqueles pacientes e familiares diante do enfrentamento de uma doença que exige toda sensibilidade e coragem. Parabéns ao Dr Maluf e ao Instituto pela iniciativa humanizadora. Uma aposta em sintonia com A Casa Frida, que visa proporcionar um olhar diferenciado de abertura e ressignificação das escolhas, dos caminhos e da história que cada um conta sobre si.
Para quem tiver interesse, artigo elaborado para o Instituto com o tema “Ressignificar Perdas com a Arte”.