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O amor e seus enlaces


O Beijo - Gustav Klimt

No início das relações humanas, a primazia dos casamentos era feita com base em interesses dos reinos, para que se aumentasse a força de trabalho e suas riquezas. Entretanto, com o decorrer do tempo foi reivindicado o direito de se casar por amor, e não mais como um pacto social. Muitos não sabiam, mas se casar por amor implicaria em uma questão muito maior: responsabilizar-se por essa escolha, de quando e com quem se relacionar. Escolher demanda, responsabilidade e desejo. Responsabilidade para se viver aquilo que se escolheu e desejo para sustentar essa escolha.

Assim, o amor é, como nos dizia Christian Dunker, um presente gratuito que é dado ao outro e por gratuidade podemos receber do outro. Muitos imaginam o amor como troca, algo que se é dado será recebido, uma condição: se eu doei amor, então eu o recebo. Mas essa lógica é falha! Quando se trata do amor não existem garantias, somente apostas.

O amor platônico nos lembra essa forma de amar, um amor romântico coberto de enganos e idealizações na tentativa de se ter garantias com o que eu espero do outro: a minha felicidade. Colocamos em um outro um enorme peso, que ele dê conta da minha felicidade e também da própria. Contudo, não é disso que se trata o amor!

O amor é uma prática, um fazer com o outro. Algo que vai para além de mim ou de você, mas na aposta que juntos temos a possibilidade de lidar com os desafios que podem surgir no nosso caminho. Uma aposta nos laços sociais, que muitas vezes nos convocam a abrir mão de certos ideais, a perder certa autonomia, ou melhor, algum controle que imaginamos ter em relação ao outro, para assim podermos lidar com o real. O real do outro, sem o véu das nossas fantasias.

E quem sabe assim se possa ter uma rel(ação) – uma ação em direção ao outro. Em uma tentativa de sermos Dois, mesmo que exista em um pano de fundo um ideal de ser Um. O Um não faz laço, ele se mistura e se funde: é um nó. O Dois se abre a possibilidade: de dois sujeitos existirem nesse enlace. Que no desencontro do Um haja um encontro possível no amor de Dois. Esse amor que tece e amor(tece) esse mal-estar de se viver em civilização.

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