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Considerações sobre a trilogia “O Poderoso Chefão” de Francis Ford Coppola e o conto “Sem Perdão” de Frederick Forsyth.

Por Carla Belintani


Saga final da família Corleone e seu triste fim.


Chegamos ao Grand Finale - Michael se havendo com as consequências de suas escolhas, querendo ser diferente do pai, acaba se tornando ainda mais violento e perigoso.


Faz pensar na profecia do mito do Rei Édipo e seu trágico destino, (escrito por Sófocles por volta do ano 427 a. c.).


Édipo, na travessia de uma vida em busca da revelação de suas origens, se questiona sobre quem seria o assassino de seu pai. Sem saber, Édipo é surpreendido ao descobrir que ele mesmo é o assassino que procurava encontrar e acaba se tornando o filho amaldiçoado.


Não sendo pleno senhor e agente de seus atos e de suas decisões, o herói corre o risco de cair na armadilha de suas próprias escolhas, esperando que os deuses e o oráculo estejam a seu favor.


Onde estará a responsabilidade por seus atos?


Em que podemos aproximar o ato trágico àquilo que a psicanálise trabalha em relação à ética?


Lembrando que a ética é a casa onde habita o homem.


“Todos sabem: tudo me era interdito: ser filho de quem sou, casar-me com quem me casei e assassinar aquele a quem eu não poderia matar!”


Ao descobrir os fatos de sua própria história, Édipo perfura os próprios olhos e deixa o reino de Tebas para viver em isolamento sendo cuidado por suas filhas durante a velhice.


Assim como Édipo, Michael comete crimes em que não se perdoa e se afunda cada vez mais na culpa por seus atos.


Se culpa por ter matado o próprio irmão e por ser o causador da morte de tantas pessoas que amava.


Sem perdão para os atos de Michael. Sem perdão para si mesmo.


Fazendo uma analogia com o conto “Sem Perdão”, Angela Summers nega o pedido de Mark, o bilionário.


Podemos pensar aqui o que seria o dinheiro e poder.


Pode-se comprar tudo?


Qual o preço que se paga por se querer tudo sem restrição?



Joel Birman define uma diferença do uso do dinheiro como valor de troca - em que se considera o outro como sujeito e valor de uso - em que o outro é eliminado do seu estatuto de sujeito. Ele serve ao outro que obtém o poder.


Aqui encontramos o dinheiro como valor de uso, o outro não é reconhecido no seu desejo mas usado como objeto.


Destaca a ilusória onipotência narcísica do sujeito.


Temos uma dívida simbólica que nos constitui - não podemos ter tudo, haverá sempre uma falta que somos obrigados a aceitar, chamamos na psicanálise de castração.


Outro ponto que o dinheiro nos faz refletir - o que seria da ordem da necessidade, da demanda e do desejo?


A demanda não pode esperar, é um imperativo - quero, logo tenho.


O desejo é da ordem simbólica em que se respeita o outro na sua alteridade.


Mark queria Angela a qualquer custo.


O valor que arca no final é alto, acaba matando a mulher que tanto desejava possuir.


Tanto no conto quanto no filme, nos deparamos com personagens que negam a dívida simbólica e que agem de acordo com as próprias leis, dando vazão à onipotência narcísica.


Não por acaso que nas duas histórias prevalece as pulsões de destruição em detrimento da vida.


O que seria uma boa vida para se viver?


Assistimos ao triste fim de Michael morrendo sozinho dando fim finalmente à sua trágica profecia e Mark sendo informado de que não há rastros do crime que cometeu.


Referências bibliográficas:


Édipo Rei, Sófocles


BIRMAN, J. Sujeito, valor e dívida simbólica: notas introdutórias sobre o dinheiro na metapsicologia freudiana.


SciELO - Brasil - O ESTATUTO PSÍQUICO DO DINHEIRO À LUZ DA TEORIA PSICANALÍTICA O ESTATUTO PSÍQUICO DO DINHEIRO À LUZ DA TEORIA PSICANALÍTICA

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