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O viver criativo

Winnicott foi um pediatra e psicanalista inglês que revolucionou a psicanálise e se destacou como um pensador independente. Dentre outros conceitos, ele discorreu sobre a importância da criatividade para o sujeito ser no mundo e criar seu próprio mundo e, deste modo, poder se relacionar com os outros de forma autêntica.

Uma subjetividade saudável se manifesta num viver criativo, que não se restringe nem se confunde com a criação artística. É um impulso criativo que acompanha todo o desenvolvimento emocional, desde o bebê até o idoso e que promove autonomia sobre as próprias escolhas. Este impulso permite ao sujeito legitimar a própria existência em comunidade, adequando a realidade interior à exterior. É estar inteiro em seu contexto social, profissional, afetivo. É, como disse Freud, poder amar e trabalhar. É poder continuar.

A criatividade inibida por traumas e perdas pode levar a um adoecimento psíquico, quando a libido é represada e o sujeito se cristaliza em uma posição de vitimização, onde há pouco contato com a alteridade.

Na experiência clínica é possível verificar que o processo analítico é palco para o desenvolvimento ou reconhecimento deste impulso criativo muitas vezes interrompido ou oculto. E mesmo quando existiram falhas no desenvolvimento primitivo do sujeito a psicanálise aposta no encontro da dupla analista e paciente como um facilitador para a inauguração de algo - até então - faltante. A pessoa que busca uma análise com a queixa de inibições diversas ou de um sentimento de não pertencimento se beneficia quando, em seu próprio ritmo, passa a reconhecer pequenos avanços e centelhas criativas.

Na Casa Frida acreditamos que a arte é um disparador potente à elaboração psíquica. Afinal, apreciar as diversas manifestações artísticas ou engajar-se em produções autorais, ainda que sem pretensões profissionais, pode servir de ferramenta para o trabalho do luto e das perdas inerentes à vida.

E, assim sendo, pode auxiliar neste viver criativo.


Por Paula Mandel

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