Desde a tenra idade, o sujeito em formação é marcado pela curiosidade sobre suas origens, curiosidade esta que pode lançá-lo rumo ao desconhecido ou recolhê-lo em seus receios.
Não é à toa que mapas medievais ilustravam monstros marinhos, sereias e redemoinhos, para apontar locais inexplorados do oceano e, claro, para representar o medo do imprevisível.
Freud e Lacan destacaram a similitude entre as teorias infantis e os mitos, que tentam justificar a origem da vida e dar sentido aos mistérios que se apresentam.
A mitologia grega, em específico, tenta dar conta dos enigmas e trazer alguma figurabilidade ao indizível. Ela marca o encontro do universal com o singular. Isso porque o sujeito também cria narrativas sobre si, ou, na denominação de Lacan, seu mito pessoal.
A estrada de Tebas, para Édipo, descortina a dicotomia entre a renúncia (ao destino) e a escolha (de implicar-se no desejo), o consciente e o inconsciente, ambivalência presente no sujeito, que, em sua estrada subjetivante, precisa enfrentar medos, superar bifurcações, escolher atalhos, enfim, embrenhar-se no desconhecido.
Neste momento enfrentamos, coletivamente, um vírus letal que nos colide com o real da doença, da morte e das perdas. Os monstros em nossa cartografia ganharam vida. E, se não podemos nos lançar à estrada ou ao oceano em livres expedições, podemos sim mergulhar internamente ou, com a ajuda da poética mitológica, nos aventurar em outras explorações.
Por Paula Mandel
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