Quando?
16/03/23
Roda de conversa on-line: das 19h30 às 21h
Onde?
Na sua casa através do aplicativo ZOOM - Baixar agora! - (Play Store) - (Apple Store)
Neste sétimo encontro iremos abordar o tema do corpo no envelhecimento. É por meio do corpo que sentimos o mundo, fonte de prazer, desprazer e com o passar do tempo as limitações corporais vão surgindo, podendo ocasionar angústia e sofrimento.
O corpo biológico é o instrumento em que nos apresentamos ao mundo, nascemos e morremos habitando esse corpo que é palco de transformações. Entre esses dois extremos, existe a travessia da vida que deixa marcas tanto corporais quanto psíquicas. "O eu é primeiro e acima de tudo, um eu corporal." Essa frase foi escrita por Freud em 1923 no texto "o eu e o id".
Quando um bebê nasce, mundo interno e mundo externo estão misturados pois suas percepções ainda não estão desenvolvidas. O bebê humano nasce em uma total dependência do outro cuidador para sua sobrevivência. É necessário um tempo de maturidade para que o bebê construa sua imagem corporal. A partir desse encontro do bebê com o outro, o eu vai sendo constituído, a voz do cuidador vai evocando esse ser inicialmente tão pequeno e sem borda, para um chamado para o mundo, se unificando em uma única imagem. O outro cuidador vai nomeando as sensações do bebê na cadeia significante. A partir do olhar vai definindo os contornos de seu corpo e se percebendo não mais como um ser fragmentado mas unificado. Quando um bebê olha a si mesmo na frente do espelho, o outro nomeia aquele bebê como sendo ele, e assim é criada sua imagem especular. Esse conceito foi desenvolvido longamente por Lacan como estádio do espelho.
"O primeiro espelho da criatura humana é o rosto da mãe: A sua expressão, o seu olhar, a sua voz.[...] É como se o bebê pensasse: Olho e sou visto, logo, existo!" Essa frase foi escrita por Winnicott, psicanalista e pediatra inglês, em 1971. A partir desse sentimento de existência do bebê, ele vai progredindo de uma demanda de sobrevivência para uma demanda de desejo. Mas qual a relação dos primórdios da constituição do eu corporal com o envelhecimento? Da mesma forma que um bebê necessita de um outro que o ame para se constituir, o passar do tempo e as experiências vivenciadas determinam a forma como lidamos com as perdas, as faltas e utilizando um termo da psicanálise, o complexo de castração.
No texto "o estranho" de 1919, Freud relata uma viagem sua de trem quando a porta do banheiro se abre mostrando "um senhor de idade, de roupão e boné de viagem, entrando." Se surpreende quando percebe que aquele intruso senhor era a sua própria imagem refletida no banheiro da porta. Não gostou daquela imagem que viu de si mesmo, ficou assustado com seu "duplo" que achou "um estranho".
Quais seriam os medos implicados com a passagem do tempo? Receio da dependência ao outro, vergonha da decrepitude e da falta de controle do próprio corpo para aquilo que já foi tão simples? Medo de não ser mais desejável, envelhecer sozinho e não se reconhecer na imagem que vê refletida no espelho? Ou então o receio de perder a memória de um corpo que tece histórias? É necessário um trabalho de luto interno para se elaborar essas questões.
Nesse encontro iremos abrir para essas reflexões sobre o corpo e imagem. O que você vê ao se olhar no espelho? Como você vive a passagem do tempo? O envelhecimento é algo estranho mas também familiar? A sua imagem do espelho coincide com a representação de sua imagem? Por que o mito de Narciso termina de forma trágica? Como enfrentar o tema da finitude e o envelhecer? Você se considera envelhecido? Como se nomeia nessa travessia?
Venha debater conosco!
Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas, e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
--- Em que espelho ficou perdida
a minha face?
CECÍLIA MEIRELES
"Eu quis explicar calmamente que não é bom ficarmos exibindo a velhice nessas viagens, a velhice é obscena, querida."
Para escapar da velhice, querida, só morrendo jovem, mas agora não dá mais. A solução é enfrentar sem fazer bico, de bom humor, se possível."
LYGIA FAGUNDES TELLES
"... isto é violência na terceira idade. sabem por quê, porque o nosso inimigo é o corpo. porque o corpo é que nos ataca. estamos finalmente perante o mais terrível dos animais, o nosso próprio bicho, o bicho que somos. que decide que é chegado o momento de começarmos a desligar-nos os sentidos e decide como e quando devemos padecer de que tipo de dor ou loucura. pois eu que tenho cem anos e podia quase ser vosso pai quero dizer-vos que ser-se velho é viver contra o corpo. o estupor do bicho que nós somos e que já não nos suporta mais. a violência na terceira idade."
VALTER HUGO MÃE
"Tomou-o uma sensação de dor, ao pensar na desagregação que experimentaria a sua bela face pintada na tela. Uma vez - zombaria infantil de Narciso - ele havia beijado ou fingido beijar esses lábios pintados, que agora lhe sorriam tão cruelmente. Dias e dias, ele se colocara diante do seu retrato, maravilhando-se da própria beleza, quase enamorado dela, como muitas vezes lhe pareceu... Presentemente, ela se alteraria diante de cada pecado ao qual ele cedesse?"
"...De hora em hora, de semana em semana, a imagem pintada decairia: ela poderia escapar à disformidade do vício, mas a fealdade dos anos se fixaria. As faces tornar-se-iam encovadas e pelancosas. Os pés-de-galinha circundariam os olhos amortecidos, assinalando-os com um estigma horrível. Os cabelos perderiam o brilho; a boca, mole e entreaberta, apresentaria essa expressão grosseira ou ridícula que possuem todas as bocas de velho. O pescoço dessa imagem tornar-se-- -ia rugoso; as mãos mostrariam as veias azuis salientes; o corpo curvar-se-ia como o do avô, que fora tão áspero para ele na sua infância. O quadro devia ser afastado de todos os olhares. Ele não poderia proceder de outra forma."
OSCAR WILDE
As fotos que utilizamos no material de apoio é do artista Tony Luciani. Fez um ensaio da própria mãe com mais de 90 anos quando se mudou para morar com ele ao apresentar quadro de demência.
"Comecei a notar como ela se sentia viva participando das fotos", afirmou Luciany. "Quanto mais eu posto fotos nas redes sociais, mais as pessoas se associam às imagens retransmitindo suas próprias experiências com a idade e a demência. Viver não é a espera da morte, mas querer viver"
Material de apoio:
Me Chamem de Velha - Eliane Brum http://elianebrum.com/opiniao/colunas-na-epoca/me-chamem-de-velha/
Referências Bibliográficas:
A imagem corporal e a constituição do eu
Corpo e envelhecimento: uma perspectiva psicanalítica
Fotos
Playlist colaborativa sobre o grupo de estudos: Clique no logo abaixo para ouvir.
Encontro 06
Quando?
16/03/23
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Acesse o material de apoio dos encontros anteriores.
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